quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Fernando Guimarães mudou a cara da Umbanda. E mudou tudo que eu achava saber de religiosidade e religião. Foi esse "cara" que me apresentou a Umbanda, apresentou  é pouco, ele escancarou... Sempre fui muito bem recebido no Terreiro do Pai Maneco e sempre me senti muito bem ali. Por isso fui ficando e me envolvendo em diversos projetos. Um dia o provoquei a fazer um "tour"pelo Terreiro, onde não houvesse porta fechada... Aqui nao há, nada se esconde, dizia ele...  Pois bem, no dia marcado lá estava ele sorrindo e feliz me acompanhando onde eu quisesse ir. Foi me mostrando tudo e explicando cada detalhe.  Não sobrou parte secreta ou proibida. Com o tempo conheci também os demais pais e mães de santo do seu Terreiro... Conheci as pessoas que la procuravam "axé ". Todos sempre apaixonados por esse cara e por sua força e determinaçào. Entendi porque sua corrente era de ferro e de aço.  Fernando Guimarães foi o primeiro dirigente espiritual que levou efetivamente a sério as indagações deste pesquisador. Conheci  o seu Terreiro por laços familiares e curiosidade acadêmica fiquei por amor. Ha tempos queria investigar a Umbanda. E fui "cair" justamente ali... Cair ? - diria ele rindo... Aprendi muito sobre Orixás, Exus, Caboclos e Pretos em nossas conversas e nas reuniões que fui convidado a observar ou participar. O tempo que nos foi presenteado nos brindou com uma forte amizade. Amizade que se solidificou entre nós e entre nossas familias. Fernandão ergueu o maior terreito do Brasil com coragem e determinaçào de poucos. Sempre comandou seus filhos de corrente com firmeza, mas sem perder a ternura. Com atitudes firmes e coerentes derrubou preconceitos numa cidade conservadora e tradicional. Anarquista convicto tinha um olhar crítico, mas sem nunca perder a esperança. No Terreiro do Pai Maneco catalizou projetos sociais e culturais. Inspirou a criação de músicas, de oficinas de arte, de um jornal  de uma editora e de uma escola. Reuniu em torno de si as mais diversas tribose diversos formadores de opinião. Fomos cumplices em muitas utopias e dividimos momentos inesqueciveis. Aprendi a admirar o homem culto e simples. Era delicioso ve-lo derrubando dogmas, misterios e revelando uma Umabanda pés-no-chao.. Fernando Guimarães dignificou a Umbanda e pulverizou os pilantras e charlatões. Seu Terreiro nunca cobrou atendimentos, nao maltratava animais e nao trabalhava com sangue. E é assim até hoje e sempre, diria ele.  Fernandão orientava "trabalhos e oferendas que respeitassem a natureza e o planeta. No Terreiro do Pai Maneco a vida era celebrada em toda sua plenitude e a igualdade em toda sua diversidade. Ele gostava de bater papo e nao abria mào de um bom debate, dentro ou fora do terreiro. Terei saudade dos papos de sabado a tarde. Guardo com afeto nossas conversas sobre a Umbanda e sobre seu Terreiro que tivemos aqui em casa, em sua casa, na casa de amigos, no Terreiro do Pai Maneco,  em Pontal, no Rio de Janeiro ou em Florianópolis. antes de encerrar lembro que ha quase 2 anos, já muito amigos, Fernandão estava pela primeira vez diante de meu filho - nascido prematuro. Em dado momento, quando o encarei, estava a sorrir docemente. Nunca vou esquecer aquele brilho no olhar que misturava força, fé, alegria e esperança. Fernando era um andarilho da utopia e acreditava que um mundo melhor era possivel. E sabia que a chance do mundo estava sempre com as crianças. Tornou-se meu compadre e parceiro em tantas e tantas jornadas neste caminho longo e sinuoso que é a vida.. Não há palavras suficientes para os que o amam escreverem algo. Sei que falarei dele aos meus alunos e ao meu filho. Aprendi com sua honestidade e a dignidade, Aprendi com a garra com que erguia seus sonhos e resignificava sua vida. Era um cara decente e honesto desses que nao se acham mais. Fernando era um sujeito que não se conformava com a falta de carater e com a impunidade, infelizmente comuns em tempos como o nosso. Era daquele tempo que a palavra valia como o fio do bigode.  Fernando Guimarães escreveu artigos e livros importantes para a Umbanda e colaborou com artigos que escrevi ou trabalhos que orientei. Prestigou uma conferência que fiz e lia o que escrevia com atenção e valioas sugestões. Era um cara muito rock and roll desses que vai buscar a filha no show do Raul e  quando se nota ta cantando "viva a sociedade alternativa" . Sinto saudade e alegria do que vivemos juntos. Sinto tristeza do que poderiamos ter tido ainda pela vida, mas sinto uma "baita"orgulho de tê-lo conhecido. Seguidor desta midia sei que entenderá  as razões deste inédito editorial.

sexta-feira, 6 de abril de 2012


Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano III, n. 9, Jan. 2011 - ISSN 1983-2850 http://www.dhi.uem.br/gtreligiao Dossiê Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades

FÉ CEGA JUSTIÇA AMOLADA
OS DISCURSOS DE CONTROLE SOBRE AS PRÁTICAS RELIGIOSAS AFRO-BRASILEIRAS NA REPÚBLICA (1889/1950)
Mario Teixeira de Sá Junior

RESUMO:
O presente artigo pretende contribuir no entendimento dos mecanismos que a nascente república brasileira construiu para limitar a laicização do Estado brasileiro contida nas Constituições a partir de 1891, mais especificamente em seu artigo 11 parágrafo 2. Em contra partida ao referido artigo surgem os códigos penais de 1890 e 1940, além de instituições públicas que procuraram impedir as práticas religiosas afro-brasileiras. Em seus discursos ora elas aparecem como não religiões, sendo seus participantes enquadrados como realizadores de animismos e fetichismos, ora como contraventores, ora como praticantes de medicina ilegal etc. Dessa forma, com o fim da escravidão e o nascimento da república, dentre os espaços de controle da imensa sociedade brasileira de afrodescendentes estarão presentes os órgãos do judiciário como cerceadores e desqualificadores dessas práticas. Essa pesquisa é um diálogo entre os campos teóricos da História Cultural e da Antropologia Cultural e teve como abordagem metodológica a análise dos códigos de lei do período analisado.

sexta-feira, 23 de março de 2012



Mônica Dias de Souza (UFRJ)

Esta tese parte da seguinte pergunta: O que significa a divinização de escravos nos ritos contemporâneos em que se cultuam os pretos-velhos? Para compreender por que motivo os escravos são divinizados na contemporaneidade, em ritos públicos e privados, além de detalhada etnografia de rituais que praticam a devoção aos pretos-velhos, foi também feita uma análise das representações dos participantes desses rituais. O culto aos pretos-velhos remete a narrativas contemporâneas do cativeiro, sendo símbolo que sustenta múltiplos entendimentos sobre a escravidão brasileira e atualiza seus significados através de rituais religiosos. Os pretos-velhos são reconhecidos como "espíritos de escravos" e entidades cultuadas na umbanda. O culto faz parte da cultura popular religiosa brasileira, estando presente em diferentes religiões do campo espírita. Por este motivo, observei rituais na barquinha, em casas de candomblé, na umbanda, em grupos que seguem a doutrina de Alan Kardec e na arca. A presença dos pretos-velhos não está restrita ao universo religioso público, é cultuado em ritos privados, sendo este um aspecto que demonstra o vigor da prática umbandista e das modelações religiosas, que apresentam novas faces deste culto. Sua presença neste âmbito privado reforça o sentido de familiaridade que tais entidades representam, pois são nominadas pelos evocativos de "pai", "tio", "tia", "avó", expressando vínculos de consangüinidade que fortalecem os laços entre o ente e seu devoto. Neste trabalho constatamos que a devoção aos pretos-velhos reflete a construção social da identidade nacional, implicada na pertinência de resgatar a afinidade com o cativeiro. Finalmente, pergunta-se em que medida esta identidade – construída nesse campo e que afeta pessoas de todas as classes , – está sendo substituída por outra concepção de escravidão, de negro e de nação. Esta última questão certamente demandará trabalhos futuros para ser melhor respondida.
palavras-chave: ritos religiosos, escravidão, umbanda, barquinho, arca

Resumo da Tese de Doutorado - 2006
Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia (UFRJ)

orientadora: Yvonne Maggie (UFRJ)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011


Mal-Estar e Sociedade - Ano II - n. 3 - Barbacena - nov. 2009 - p. 105-129

A multidimensionalidade do espaço geográfico: a revelação da umbanda como dimensão espacial do ethos

Marcelo Alonso Morais
Mestrando em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) 
 

A religião como a umbanda desempenha papel crucial na produção do espaço urbano, e no resgate das práticas religiosas e nas suas múltiplas territorialidades é que poderemos almejar a conquista de novos direitos e liberdades para um maior número de habitantes da cidade, nunca se perdendo de vista a importância de uma análise integrada e interdisciplinar das práticas culturais e das estruturas políticas, econômicas e sociais que compõem esse espaço idiossincrático.

espaço; umbanda; identidade
Palavras-Chave:  

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

 

Paidéiamaio-ago. 2011, Vol. 21, No. 49, 207-216
Estrela que vem do Norte: os baianos na umbanda de São Paulo

Alice Costa Macedo
jose F. Miguel Bairrao
 Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP, Brasil


Os baianos da umbanda compõem uma categoria de espíritos associada a personagens tipicamente nordestinos. Este estudo visou caracterizar a categoria espiritual baiano na umbanda do Sudeste e desvendar como o panteão incorpora vivências humanas e tipos sociais. Recorreu-se à análise da literatura, observação participante e entrevistas com médiuns em transe. Colaboraram médiuns e dirigentes de terreiros do estado de São Paulo. Para a análise dos dados utilizou-se o conceito psicanalítico de significante. As narrativas dos baianos revelaram justaposições com aspectos da cultura nordestina, sugerindo que há uma transmutação de cenas regionais em metonímias e metáforas que se recombinam de modo a não haver uma reflexão imediata de tipos socialmente dados. Esses significantes materializam-se nos rituais, mas também em narrativas ricas em oxímoros, de modo a possibilitar a expressão do contraditório e a proporcionar símbolos religiosos nos quais o humano, paradoxal e conflituoso, possa se reconhecer.

Palavras-chave: umbanda, metáfora, psicanálise, cultura afro-brasileira

domingo, 4 de setembro de 2011

Civitas Porto Alegre v. 9 n. 2 p. 224-242 maio-ago. 2009


Devoções, ciberespaço e imaginário religioso
Uma análise dos altares virtuais

                                                            
José Rogério Lopes
Pedagogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais, PPG em Ciências Sociais da Unisinos (RS).
jrlopes@unisinos.br


Resumo: O artigo analisa algumas correspondências estabelecidas entre as experiências devocionais no ciberespaço, com foco nos altares virtuais, e o imaginário religioso contemporâneo, considerando os registros das novas devoções e a introdução de práticas e linguagens rituais em espaços novos para mediações devocionais; a propriedade de o cristianismo devocional conferir rosto e materialidade à fé, como de criar raízes onde existam outras religiões, e a "vocação para o público" própria dessas devoções. A análise das correspondências estabelecidas explicita a necessidade de aprofundar o estudo dessas combinações, visando a melhor compreender o universo dinâmico e rico de religiosidade que se produz no ciberespaço.
Palavras-chaves: Devoções populares; Ciberespaço; Imaginário religioso; Altar virtual

segunda-feira, 22 de agosto de 2011


AGRADECEMOS....
O AUMENTO SIGNIFICATIVO DE CONSULTAS AO BLOG !!! 
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QUE ESTAMOS CONSEGUINDO  COLABORAR
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E AS VISITAS AJUDAM  DEMAIS...

saravás !

terça-feira, 9 de agosto de 2011


Eufrazia Cristina Menezes Santos
fonte: UNICAMP IFCH

Resumo: Este trabalho tem como objetivo evidenciar a riqueza da construção simbólica em tomo da figura dos pretos velhos. Procura-se destacar o conjunto das representações sociais que tomam parte ou estão subjacentes na sua elaboração, considerando a particularidade étnica e racial do personagem. O folclore e a literatura são consideradas como instâncias produtoras dos estereótipos, clichês e caricaturas que emigraram para o campo religioso e serviram de base para sua versão religiosa. A partir do arquétipo mais tradicional do preto velho, ocorre uma série de rearranjos e interpretações que dão origem a diferentes modalidades de pretos velhos, em conformidade com os interesses e as representações dos grupos religiosos nos quais registra-se a sua presença. No conjunto do trabalho privilegia-se a análise do seu culto na religião umbandista, destacando seu perfil, características e atributos enquanto representante de uma das categorias de espírito que compõem o seu panteão. Na umbanda, a versão religiosa do preto velho transformou-o em símbolo nacional, conferindo-lhe o estatuto de ancestral brasileiro. Considerando o caráter dinâmico da criação religiosa apresenta-se o estudo de caso do Preto Velho Joaquim, enfatizando a versão kardecista deste personagem religioso. Através dele discute-se a hipótese do embranquecimento dos pretos velhos no kardecismo. Este processo consiste em descaracterizar e despir a figura do preto velho dos elementos afro-brasileiros, reinterprentando sua figura a partir de uma perspectiva reencamacionista. Independente da existência de diferentes versões do preto velho, processa-se sempre o reconhecimento público da sua figura. A importância sociológica e religiosa do preto velho não é informada somente pela sua cor mas, também, pelo conjunto de temas culturais e religiosos que ele veicula. A riqueza da sua construção encontra-se no fato do personagem refletir em si as várias contradições da nossa sociedade; servindo como referência para as discussões de temas sociais como nacionalismo, relações raciais, escravidão e identidade nacional. O estudo do preto velho revela a importância de valores e instituições como trabalho, família, obediência, hierarquia e humildade na sociedade brasileira.

quinta-feira, 28 de julho de 2011


REVISTA HISTORIA AGORA
NUMERO 10,
VOLUME 02,
JULHO 2011

 A (re)Elaboração da morte na Umbanda:
Reflexões Psicanalíticas

Sidney N. de Oliveira (1)
Desirée V. Bianeck (2)

Pretende-se elaborar algumas reflexões sobre a morte, a partir de uma perspectiva cientifica, mas tomando como pano de fundo o simbólico, o imaginário e o religioso umbandista. Entende-se que mesmo nos dias atuais, falar sobre a morte, tanto no âmbito científico como religioso, denota uma óbvia complexidade, pois não existe a experiência da própria da morte para investigar. Fala-se sempre sobre a morte do outro. E, no âmbito da morte alheia, religião e ciência têm debatido diferentes concepções e reelaboram a sua maneira o fenômeno e seu impacto na subjetividade das pessoas. A premissa que se pretende problematizar neste trabalho é que na Umbanda há uma reelaboração da morte com a instituição de um sagrado emancipador e por meio de uma construção autônoma e dialética da subjetividade. Esse processo pode ser visto de modo mais efetivo na atual compreensão dos Exus e das Pombas-Giras. 
1 Pós-Doutor em Economia da Educação pela USP, Doutor em Psicologia Social pela USP, Professor Associado da UFPR. Contato:
sidney@ufpr.br
 
2 Mestranda em Filosofia da Psicanálise pela PUC-PR, Especialista em Psicologia Clínica pela PUC-PR, Psicóloga pela UFPR. Contato: desireebianeck@yahoo.com.br 

quarta-feira, 8 de junho de 2011


A Umbanda nos romances espíritas kardecistas

Profa Dra. Maria Helena Cocone
Titular do depto de Antropologia
PUC-SP
trcconcone@yahoo.com.br


Prof. Dra. Eliane Resende
Universidade Federal de Alfenas
eliane.rezende@unifal-mg.edu.br

Resumo: Para a Antropologia, a religião pode ser vista como um sistema cultural que engloba todo um conjunto de símbolos e significados, onde são contruídas relações de sentido para a vida; como afirma Geertz, a religião produz um ethos e uma visão de mundo. Este estudo teve como objetivo analisar a Umbanda tal como aparece em romances espíritas, buscando os aspectos morais e cognitivos que os informam, neste caso buscando, na visão espírita do umbandismo, a positividade ou a negatividade a ele atribuídas e os argumentos usados para justificar tais avaliações. Os textos escolhidos permitiram o cotejamento entre as descrições e recortes feitos nesses romances e as descrições e recortes da Umbanda apresentados pela literatura acadêmica. Esta estratégia permitiu aprofundar nossa análise e, indo um pouco além dos romances, introduzir uma reflexão mais crítica. Para a leitura e análise dos textos estabelecemos previamente alguns marcadores: nascimento da Umbanda; obsessão ou encosto; sincretismo; processo saúde-doença. A explicabilidade oferecida pelo Espiritismo mostra toda sua força para as pessoas que vivem infortúnios (morte, perdas, doenças,entre outros) e as descrições das atuações da Umbanda e do Espiritismo são vistas nesse contexto como uma soma de ações em benefícios dos indivíduos encarnados e desencarnados.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Autor: Prof. Dr. Jose F. M H. Bairrão (USP-RP)

fonte:  Revista Psicologia Reflexao e Critica

 Resumo: A partir de uma ocorrência contemporânea, revisita-se a tese de que a Umbanda reflete processos históricos e guarda memórias sociais profundas. Há indícios de que esse talento vem sendo aplicado à reflexão do abandono da infância, orientando práticas de cuidado e de solidariedade retribuidoras de dons atribuídos ao "povo de rua" infantil, embasadas no reconhecimento da sua participação e inserção "mística" na vida social. Neste artigo analisam-se performances rituais de "exus mirins" e depoimentos desses personagens do panteão umbandista e dos seus fiéis, supondo-se que dar ouvidos a essas meditações coletivas e ao modo como espelham o curto circuito entre sociedade excludente e ferocidade infantil contribua para compreender como os setores que mais cedem vidas a esse horror o interpretam e se significam. Conclui-se que, por meio da inclusão profunda das crianças de rua no âmago da experiência religiosa, a Umbanda contraria a sua segregação e extermínio, físicos e simbólicos.

Palavras-chave: Meninos de rua; etnopsicologia; memória social; psicologia e religião; Umbanda

sábado, 21 de maio de 2011

 

 

O processo de conversão do negro : umbanda e pentecostalismo

Inara da Rocha Simplicio

RESUMO

O trabalho de pesquisa aqui desenvolvido, nasceu da idéia de retomamos um dos grandes temas da sociologia brasileira que são o estudo do negro e da religião. Entramos nesta problemática partindo de um lugar social específico: um bairro periférico da cidade de Nova 19uaçu, situada na região da Baixada Fluminense e tomando por base as dificuldades da população negra e proletária diante dos conflitos interiores impostos pela dura vida cotidiana. Neste contexto, percebe-se a presença histórica das representações religiosas católica e afro-brasileira. O catolicismo é assistido como a religião preferida da maioria da população. As religiões afro-brasileiras aparecem como alternativas paralelas para a concretização de serviços religiosos. Dado esse contexto religioso, surge o protestantismo, particularmente opentecostalismo, alheio às tradições locais. Ele entra na área propondo a adoção de um novo estilo de crença e de vida, e luta para conquistar adeptos competindo com as religiões ali existentes, tentando conseguir um maior espaço no mercado de ofertas de bens e serviços religiosos. Abre-se então um questionamento sobre o predomínio da preferência pelo catolicismo e sobre os poderes mágico-religios.os das religiões de origem africana, particulannente a umbanda, que utiliza técnicas semelhantes às da religião pentecostal na "cura do corpo e do espírito". A partir desse panorama, o catolicismo e as religiões de origem africana preocupamse com a ameaça da perda dos fiéis e montam estratégias para atrair novos adeptos. Acreditando num desgaste do catolicismo cada vez mais distante das suas atividades sacramentais, o pentecostalismo passa a considerar a umbanda como seu alvo principal na concorrência. O pentecostalismo observa a umbanda como a religião que cultua "espíritos demoníacos" instigando à manifestação do mal. De fonna que a religião umbandista, desse ponto de vista, é considerada a causadora de todos os infortúnios pelos quais passam os adeptos e os clientes que procuram seus poderes. Nesse sentido, os agentes e os adeptos pentecostais, por se considerarem os "soldados de Deus", acham-se não só no direito mas no dever de extirpar o mal, o que procuram fazer, por um lado, atuando sobre as religiões de origem africana e, por outro, tentando converter seus adeptos. A conversão das pessoas oriundas da umbanda para o pentecostalismo é considerada a maior vitória da religião pentecostal no combate do mal. Para o negro pobre oriundo da umbanda que carrega o estigma e o esteFeótipo da cor e da religião, a passagem para o mundo protestante pentecostal parece ser um caminho adotado para livrar-se da condição de malignidade em que se encontra e construir uma nova identidade. Deste modo, ele se aproxima mais da imagem ideal do homem "moderno", integrando-se assim na  sociedade"moderna".

quarta-feira, 30 de março de 2011

Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano III, n. 9, Jan. 2011 - ISSN 1983-2850


foto Sidney Oliveira
UEUB Cab, 7 Encruzilhadas
(Rio de Janeiro-RJ)


FÉ CEGA JUSTIÇA AMOLADA OS DISCURSOS DE CONTROLE SOBRE AS PRÁTICAS RELIGIOSAS AFRO-BRASILEIRAS NA REPÚBLICA (1889/1950)

Mario Teixeira de Sá Junior
Doutor em História pela UNESP (2008) 

Professor adjunto na UFGD/FADIR.


O presente artigo pretende contribuir no entendimento dos mecanismos que a nascente república brasileira construiu para limitar a laicização do Estado brasileiro contida nas Constituições a partir de 1891, mais especificamente em seu artigo 11 parágrafo 2. Em contra partida ao referido artigo surgem os códigos penais de 1890 e 1940, além de instituições públicas que procuraram impedir as práticas religiosas afro-brasileiras. Em seus discursos ora elas aparecem como não religiões, sendo seus participantes enquadrados como realizadores de animismos e fetichismos, ora como contraventores, ora como praticantes de medicina ilegal etc. Dessa forma, com o fim da escravidão e o nascimento da república, dentre os espaços de controle da imensa sociedade brasileira de afrodescendentes estarão presentes os órgãos do judiciário como cerceadores e desqualificadores dessas práticas. Essa pesquisa é um diálogo entre os campos teóricos da História Cultural e da Antropologia Cultural e teve como abordagem metodológica a análise dos códigos de lei do período analisado.

sábado, 26 de março de 2011

XI Congresso Internacional da ABRALIC - USP – São Paulo, Brasil


Metáforas da Memória e da Resistência:  
 uma análise dos pontos cantados na Umbanda 
Mestranda Carina Maria Guimarães Moreira1
(UNIRIO)

RESUMO - O presente ensaio, partindo da análise dos pontos cantados nos rituais da Umbanda, mapeia possíveis influências centro-africanas contidas nessas expressões poéticas. Os Pontos Cantados possuem ritmos e funções variadas. Sua poesia, constituída da palavra e seus ritmos cantados, conferem-lhe um poder mágico, sendo interpretado na Umbanda como uma forma de oração, servindo para direcionar as giras e auxiliar os guias em seus trabalhos. Assim, além de evidenciarem sua matriz centro-africana, eles apresentam as marcas adquiridas no seu caminho histórico, que é nosso caminho histórico, brasileiro. Aqui, abrem-se diversas opções de analise do Ponto Cantado. O que a primeira vista é apenas um canto ritmado, mostra-se como uma expressão poética fluida e complexa em suas relações entre palavra, ritmo, música, dança e crença, fazendo-a repleta de símbolos e memória.


terça-feira, 22 de março de 2011

Revista SCIENTIA PLENA VOL. 3, NUM. 5 2007
www.scientiaplena.org.br

Adailson Jose Rosendo Bomfim (UFSE)

(artigo) Um “Alarido” Neopentecostal: Diversidade e Ressignificação Simbólica na Igreja Universal do Reino de Deus

A busca de uma dimensão religiosa para a existência parece ser o desafio supremo do homem “contemporâneo”, insatisfeito com a visão racional de mundo que o pensamento científico e materialista lhe apresenta como discurso de verdade. Há outro em cada um de nós, meio adormecido e enterrado. No inconsciente, que não se vê refletido nesse saber e clama por outras categorias explicativas do cosmo que venha restabelecer o sentido da vida. Nesse aspecto crucial, a IURD surge no cenário religioso brasileiro como uma grande “aldeia” que oferece uma diversidade de bens simbólicos de outras religiosidades. O presente artigo visa dar um passo inicial no nosso projeto para dissertação de Mestrado em Sociologia que se propõe analisar, particularmente, de que maneira os bens simbólicos “afro-espíritas” são ressignificados e retrabalhados no interior da Igreja Universal.

Palavras-chave: Ressignificação, bens simbólicos, “afro-espíritas”, IURD.

foto: Sidney Oliveira
local: TPM Florianópolis
Evento: Amaci (10/2010)

sábado, 19 de março de 2011

artigo interessante

                   
                  FOTO: SIDNEY OLIVEIRA

Lages, S. R. C. & D'Ávila Neto, M. I. Vida cigana: mulheres, possessão e transgressão no terreiro de Umbanda. 12 - Pesquisas e Práticas Psicossociais, 2(1), São João del-Rei, Mar./Ag., 2007

Vida Cigana: Mulheres, Possessão e Transgressão no Terreiro de Umbanda.

Prof. Dra.Sônia Regina Corrêa Lages
Maria Inácia D'Ávila

UFRJ
(Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Este ensaio tem o objetivo de analisar a relação de uma mulher médium com uma entidade sobrenatural que ela incorpora, a Pomba-gira Cigana da Umbada/Quimbanda. A possessão, pode ser traduzida como uma ação de resistência aos poderes sociais opressores presentes no seu cotidiano. A partir do conceito de artes de fazer definido por De Certeau, narrativas da médium são analisadas como redefinições de práticas e usos que lhe são impostos pela sociedade. A análise revela como a possessão pode servir para a construção de uma identidade condize nte com suas necessidades pessoais, como instrumento de posicionamento social e como meio de denunciar as imposições do discurso oficial sobre os papéis sociais reservados para as mulheres.

PALAVRAS CHAVE: médium, Pomba-gira Cigana Esmeralda, possessão, táticas de transgressão, representações sociais.