quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Fernando Guimarães mudou a cara da Umbanda. E mudou tudo que eu achava saber de religiosidade e religião. Foi esse "cara" que me apresentou a Umbanda, apresentou  é pouco, ele escancarou... Sempre fui muito bem recebido no Terreiro do Pai Maneco e sempre me senti muito bem ali. Por isso fui ficando e me envolvendo em diversos projetos. Um dia o provoquei a fazer um "tour"pelo Terreiro, onde não houvesse porta fechada... Aqui nao há, nada se esconde, dizia ele...  Pois bem, no dia marcado lá estava ele sorrindo e feliz me acompanhando onde eu quisesse ir. Foi me mostrando tudo e explicando cada detalhe.  Não sobrou parte secreta ou proibida. Com o tempo conheci também os demais pais e mães de santo do seu Terreiro... Conheci as pessoas que la procuravam "axé ". Todos sempre apaixonados por esse cara e por sua força e determinaçào. Entendi porque sua corrente era de ferro e de aço.  Fernando Guimarães foi o primeiro dirigente espiritual que levou efetivamente a sério as indagações deste pesquisador. Conheci  o seu Terreiro por laços familiares e curiosidade acadêmica fiquei por amor. Ha tempos queria investigar a Umbanda. E fui "cair" justamente ali... Cair ? - diria ele rindo... Aprendi muito sobre Orixás, Exus, Caboclos e Pretos em nossas conversas e nas reuniões que fui convidado a observar ou participar. O tempo que nos foi presenteado nos brindou com uma forte amizade. Amizade que se solidificou entre nós e entre nossas familias. Fernandão ergueu o maior terreito do Brasil com coragem e determinaçào de poucos. Sempre comandou seus filhos de corrente com firmeza, mas sem perder a ternura. Com atitudes firmes e coerentes derrubou preconceitos numa cidade conservadora e tradicional. Anarquista convicto tinha um olhar crítico, mas sem nunca perder a esperança. No Terreiro do Pai Maneco catalizou projetos sociais e culturais. Inspirou a criação de músicas, de oficinas de arte, de um jornal  de uma editora e de uma escola. Reuniu em torno de si as mais diversas tribose diversos formadores de opinião. Fomos cumplices em muitas utopias e dividimos momentos inesqueciveis. Aprendi a admirar o homem culto e simples. Era delicioso ve-lo derrubando dogmas, misterios e revelando uma Umabanda pés-no-chao.. Fernando Guimarães dignificou a Umbanda e pulverizou os pilantras e charlatões. Seu Terreiro nunca cobrou atendimentos, nao maltratava animais e nao trabalhava com sangue. E é assim até hoje e sempre, diria ele.  Fernandão orientava "trabalhos e oferendas que respeitassem a natureza e o planeta. No Terreiro do Pai Maneco a vida era celebrada em toda sua plenitude e a igualdade em toda sua diversidade. Ele gostava de bater papo e nao abria mào de um bom debate, dentro ou fora do terreiro. Terei saudade dos papos de sabado a tarde. Guardo com afeto nossas conversas sobre a Umbanda e sobre seu Terreiro que tivemos aqui em casa, em sua casa, na casa de amigos, no Terreiro do Pai Maneco,  em Pontal, no Rio de Janeiro ou em Florianópolis. antes de encerrar lembro que ha quase 2 anos, já muito amigos, Fernandão estava pela primeira vez diante de meu filho - nascido prematuro. Em dado momento, quando o encarei, estava a sorrir docemente. Nunca vou esquecer aquele brilho no olhar que misturava força, fé, alegria e esperança. Fernando era um andarilho da utopia e acreditava que um mundo melhor era possivel. E sabia que a chance do mundo estava sempre com as crianças. Tornou-se meu compadre e parceiro em tantas e tantas jornadas neste caminho longo e sinuoso que é a vida.. Não há palavras suficientes para os que o amam escreverem algo. Sei que falarei dele aos meus alunos e ao meu filho. Aprendi com sua honestidade e a dignidade, Aprendi com a garra com que erguia seus sonhos e resignificava sua vida. Era um cara decente e honesto desses que nao se acham mais. Fernando era um sujeito que não se conformava com a falta de carater e com a impunidade, infelizmente comuns em tempos como o nosso. Era daquele tempo que a palavra valia como o fio do bigode.  Fernando Guimarães escreveu artigos e livros importantes para a Umbanda e colaborou com artigos que escrevi ou trabalhos que orientei. Prestigou uma conferência que fiz e lia o que escrevia com atenção e valioas sugestões. Era um cara muito rock and roll desses que vai buscar a filha no show do Raul e  quando se nota ta cantando "viva a sociedade alternativa" . Sinto saudade e alegria do que vivemos juntos. Sinto tristeza do que poderiamos ter tido ainda pela vida, mas sinto uma "baita"orgulho de tê-lo conhecido. Seguidor desta midia sei que entenderá  as razões deste inédito editorial.

sexta-feira, 6 de abril de 2012


Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano III, n. 9, Jan. 2011 - ISSN 1983-2850 http://www.dhi.uem.br/gtreligiao Dossiê Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades

FÉ CEGA JUSTIÇA AMOLADA
OS DISCURSOS DE CONTROLE SOBRE AS PRÁTICAS RELIGIOSAS AFRO-BRASILEIRAS NA REPÚBLICA (1889/1950)
Mario Teixeira de Sá Junior

RESUMO:
O presente artigo pretende contribuir no entendimento dos mecanismos que a nascente república brasileira construiu para limitar a laicização do Estado brasileiro contida nas Constituições a partir de 1891, mais especificamente em seu artigo 11 parágrafo 2. Em contra partida ao referido artigo surgem os códigos penais de 1890 e 1940, além de instituições públicas que procuraram impedir as práticas religiosas afro-brasileiras. Em seus discursos ora elas aparecem como não religiões, sendo seus participantes enquadrados como realizadores de animismos e fetichismos, ora como contraventores, ora como praticantes de medicina ilegal etc. Dessa forma, com o fim da escravidão e o nascimento da república, dentre os espaços de controle da imensa sociedade brasileira de afrodescendentes estarão presentes os órgãos do judiciário como cerceadores e desqualificadores dessas práticas. Essa pesquisa é um diálogo entre os campos teóricos da História Cultural e da Antropologia Cultural e teve como abordagem metodológica a análise dos códigos de lei do período analisado.

sexta-feira, 23 de março de 2012



Mônica Dias de Souza (UFRJ)

Esta tese parte da seguinte pergunta: O que significa a divinização de escravos nos ritos contemporâneos em que se cultuam os pretos-velhos? Para compreender por que motivo os escravos são divinizados na contemporaneidade, em ritos públicos e privados, além de detalhada etnografia de rituais que praticam a devoção aos pretos-velhos, foi também feita uma análise das representações dos participantes desses rituais. O culto aos pretos-velhos remete a narrativas contemporâneas do cativeiro, sendo símbolo que sustenta múltiplos entendimentos sobre a escravidão brasileira e atualiza seus significados através de rituais religiosos. Os pretos-velhos são reconhecidos como "espíritos de escravos" e entidades cultuadas na umbanda. O culto faz parte da cultura popular religiosa brasileira, estando presente em diferentes religiões do campo espírita. Por este motivo, observei rituais na barquinha, em casas de candomblé, na umbanda, em grupos que seguem a doutrina de Alan Kardec e na arca. A presença dos pretos-velhos não está restrita ao universo religioso público, é cultuado em ritos privados, sendo este um aspecto que demonstra o vigor da prática umbandista e das modelações religiosas, que apresentam novas faces deste culto. Sua presença neste âmbito privado reforça o sentido de familiaridade que tais entidades representam, pois são nominadas pelos evocativos de "pai", "tio", "tia", "avó", expressando vínculos de consangüinidade que fortalecem os laços entre o ente e seu devoto. Neste trabalho constatamos que a devoção aos pretos-velhos reflete a construção social da identidade nacional, implicada na pertinência de resgatar a afinidade com o cativeiro. Finalmente, pergunta-se em que medida esta identidade – construída nesse campo e que afeta pessoas de todas as classes , – está sendo substituída por outra concepção de escravidão, de negro e de nação. Esta última questão certamente demandará trabalhos futuros para ser melhor respondida.
palavras-chave: ritos religiosos, escravidão, umbanda, barquinho, arca

Resumo da Tese de Doutorado - 2006
Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia (UFRJ)

orientadora: Yvonne Maggie (UFRJ)